BIOGRAFIA

Hirondina Joshua em Maputo, 2023. Fotografia Carlos Manhique

Bio

Escritora e jurista moçambicana nascida a 31 de Maio de 1987 na cidade de Maputo.

Membro da Associação dos Escritores Moçambicanos - AEMO.

Começou a ler literatura moçambicana e clássicos da literatura universal na adolescência por influência do seu pai.

Instituições de ensino, centros culturais e workshops: desde menina esteve integrada em actividades artístico-literárias na cidade de Maputo.

Inicia a sua caminhada com teatro, sob direcção do veterano saudoso declamador Jaime Santos com a peça O Grasnar dos Corvos em 2005, no Centro Cultural Brasil- Moçambique - Instituto Guimarães Rosa em Maputo.

Posteriormente, frequenta Oficina de Escrita Literária com a saudosa professora Fernanda Angius, no Instituto Camões em Maputo.

O escritor moçambicano Mia Couto prefaciou o seu livro de estreia em 2016.

Uma das maiores vozes da sua geração com uma carreira internacional, tendo livros publicados em vários países e traduções, algumas obras estudadas em universidades, antologias e colaborações em diversas revistas; participações em eventos literários de maior prestígio mundial.

Grafia

Mia Couto, uma das mais expressivas vozes da literatura de Moçambique e do mundo, ao prefaciar o livro inaugural de Hirondina Joshua, a publicação poética Os ângulos da casa (2016), afirma que ela "não chegou agora, com este livro (...). Foi surgindo como uma claridade lunar até se impor não já como uma promessa futura mas como uma voz presente e segura...". E ele ainda completa: "...chegou. E a poesia estava com ela.".1

De facto, paralela e para lê-la, a poesia parece caminhar lado a lado do ainda breve mas actuante histórico literário de Joshua. De uma escrita possível e passível de diversas vias interpretativas e de formas de leitura, a escritora moçambicana participa de uma poética que versa em versos com o percurso actual não só da já bastante experimentada embora ainda jovem literatura lusófono-africana, mas com os muitos ângulos que habitam no que hoje se chama contemporaneidade. Como disse a escritora portuguesa Djaimilia Pereira de Almeida, no seu livro de ensaios O que é ser uma escritora negra hoje, de acordo comigo, descreve o poema da Joshua como afro-futurista.2 Em suma, dessa poesia que renuncia a convencimentos diante do vislumbre de uma camada de indagações alojadas às portas de um abismo "onde se vê o fundo... antes de ser {o} aquilo.".3

Metapoética? Poesia metafísica? Escrita surrealista? Poemática sensorial-imagética? Literatura dadaísta ou "exterioridade da percepção"?4

Sua voz é visceral com uma força natural e quase misteriosa; em todos os géneros experimentados é ontológica: como se estivesse à procura de alguma coisa intangível. As imagens são postas numa espécie de luz acendendo e apagando constantemente. Qualquer coisa é corpo, qualquer coisa é sopro. Nota-se na obra o trabalho com a linguagem. Tem uma escrita experimental, Hirondina, mais do que escrever, inscreve.

Difícil achar um lugar comum para sua obra que não seja o espaço que margeia o espaço quase que infinito dos significados por ela buscado em escrita.

Poética híbrida em essência, em formas, em matizes e em constante mutação não só no conjunto de seu repertório escrito, como também em cada particularidade de seus versos. Apresenta-se ao leitor como uma espécie de telescópio em observatório capaz de suscitar uma gama extensa de perspectivas e de decodificação. São estruturas que se relacionam, que se interseccionam, mas que também se dissipam uma das outras. Que se juntam no ponto cego de seu afastamento.

Mas quase tudo que dissermos sobre Hirondina Joshua, especificamente sobre a sua literatura, não passa de uma tentativa de teorizá-la, de lhe dar classificações, de encabrestarmos o indomável, de criarmos estanque para um rio selvagem, cujas águas nascidas não conseguiríamos imaginar nem mesmo ao certo de onde vêm. Ou seja, nossa aventura por defini-la não passaria de uma busca por tosar suas asas, numa tentativa inútil de lhe guardar o vôo. Inútil, porque, como disse o poeta brasileiro Antônio Cícero: "melhor se guarda o voo de um pássaro / Do que de um pássaro sem voos.".5 Inútil porque, parafraseando o escritor argentino Jorge Luis Borges, o que são teorias poéticas senão "meras ferramentas para escrever um poema."6? E quem é Joshua, senão os versos que lhe habitam? Senão o que eles dizem dela e de si; já que caminham lado a lado? E dizem tanto QUANTO dizem ou querem escondê-la. E dizem TANTO quando dizem:

"meteoro de palavra interdita (não dita) nela cabe o mundo quando desenhas na página uma onda hirondina! um ponto pesposto uma ponte hieroglífica um anjo a caminho da asa"7

1. COUTO, Mia in. "Os ângulos da casa"

2. ALMEIDA, Djaimilia Pereira de in "O que é ser uma escritora negra hoje, de acordo comigo" pg. 65

3. JOSHUA, Hirondina "Os ângulos da casa" pg 14

4. LEITE, Ana Mafalda e JOSHUA, Hirondina "A Estranheza fora da Página" pg. 6

5. CÍCERO, Antônio "Guardar" pg. 6

6. BORGES, Jorge Luis "Esse Ofício do Verso" pg. 103

7. JOSHUA, Hirondina "A estranheza fora da página" pg. 15